Resumo da Palestra do Prosub
No dia 2 de março, às 10h, no auditório do Centro de Convívio dos
Meninos do Mar (CCMar), o Coordenador do Programa de Desenvolvimento
de Submarino com Propulsão Nuclear (Prosub), Almirante-de-Esquadra
José Alberto Accioly Fragelli, fez uma palestra sobre o assunto,
dirigida aos militares, autoridades e pessoas da comunidade
interessadas.
O leitor Gilberto Rezende esteve lá e enviou o seguinte resumo:
.
Primeiro o PLANO da Marinha do Brasil é construir 6 (SEIS) submarinos
nucleares. Em três áreas de patrulha oceânicas e cada uma de
responsabilidade de dois submarinos.
.
O Almirante confirmou a finalização da USEXA (usina de conversão de
gás de urânio) em junho e o fechamento do ciclo nuclear completo em
nível industrial.
.
O LABGENE que é a planta do reator nuclear piloto em terra está em
andamento e será encerrada em 2014. Destacou que este passo é
essencial para que o Brasil não repita os insucessos da França e da
Índia que partiram diretamente para o seu primeiro submarino nuclear
sem fazer o reator piloto em terra.
Segundo ele a Índia ano passado foi simplesmente incapaz de montar seu
reator no interior do casco do seu submarino e a França (quando da
construção do seu primeiro submarino nuclear) teve problemas tão
graves de projeto que acabou por abandona-lo com apenas um ano e meio
de vida operacional e a França teve que suportar o prejuízo total de
seu primeiro projeto de submarino nuclear
E partir para a segunda
tentativa
.
Este reator do LABGENE servirá de base tanto para projetar os 6
reatores para os submarinos como para os 3 primeiros reatores civis na
faixa de 600 a 800 MW (Angra I tem 1.000 MW) e serão construídos, pelo
planejamento da Nuclebrás, após a conclusão de Angra III. O plano é
que no futuro as novas plantas nucleares civis brasileiras sejam de
projeto brasileiro apenas, sem mais aquisições de usinas no exterior.
.
Foi informado na palestra que as duas atuais usinas civis brasileiras
usam urânio enriquecido de 3,2 a 4% e que o reator do submarino
atômico brasileiro usará urânio enriquecido a 7% e que deverá ter a
necessidade cíclica operacional de ter seus elementos combustíveis
nucleares totalmente substituídos de quatro em quatro anos.
.
As imagens e planos exibidos na palestra mostraram dois diques
TOTALMENTE COBERTOS para atender a duas embarcações submarinas
nucleares ao mesmo tempo na chamada ILHA NUCLEAR onde os futuros
submarinos nucleares serão construídos, receberão manutenção e onde se
processará a troca do elemento combustível do reator quando
necessário. Ela deverá ser construida num recorte da encosta e será
instalada sobre leito firme de rocha ao contrário do resto do complexo
que será feito sobre aterro e plataformas sobre o mar.
.
Foi explicado que o projeto da base e estaleiro de Itaguaí teve um
processo EXTREMAMENTE COMPLEXO de licenciamento ambiental e
licenciamento nuclear na CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e
as múltiplas exigências fizeram que o projeto tivesse 24 variações de
lay-out até a aprovação final e mesmo com as primeiras obras do
estaleiro/base de Itaguaí tendo sido iniciadas em fevereiro (sem
cerimônia oficial ainda) a parte da chamada ILHA NUCLEAR, que é o
coração do projeto, ainda não teve a licença final da CNEN deferida. O
que deve ocorrer ainda neste primeiro semestre de 2010.
.
O Estaleiro/Base ficará a cerca de 4 Km da Nuclep que é responsável
pela construção das grandes seções cilindricas do casco submarino e
uma unidade de integração de unidades metálicas ficará na área da
Nuclep onde uma substancial parte de itens do submarino serão
incorporadas nas seções feitas ali mesmo na Nuclep e seguirão por uma
via reforçada até ao túnel de acesso do Estaleiro/Base que será grande
o suficiente para possibilitar o acesso seguro das seções de submarino
ao complexo.
.
Face ao período muito curto de troca dos elementos combustíveis
nucleares nos modelos brasileiros, comparativamente em relação aos
modelos americanos, ingleses e franceses, uma boa parte do esforço de
engenharia do projeto do reator naval brasileiro estará se dando no
sentido de permitir a troca dos elementos combustíveis num tempo bem
mais curto que o normalmente é conseguido nos modelos de outras
origens. A realização bem sucedida desta característica do projeto
será essencial para permitir a maior operacionalidade possível da
frota submarina nuclear que o Brasil pretende construir. Foi dito que
quando a base estiver operacional tanto os submarinos convencionais
como a própria força de submarinos da marinha sairão da Base de
Mocanguê em Niteroi e passarão para Itaguaí
Como mostrado nos modelos
tridimensionais do projeto onde uma das TAGs apontava um prédio como
COMANDO DA FORÇA DE SUBMARINOS.
.
Outra imagem mostrou que o projeto brasileiro será de um hélice
propulsionado por dois motores elétricos de propulsão. Portanto a
energia nuclear será usada para mover uma turbina que movimentará um
gerador elétrico para gerar força aos motores elétricos de propulsão.
.
Outras informações relevantes:
Muito interessante :
Sobre as ultracentrífugas brasileiras foi destacado que, sem qualquer
ufanismo, elas são o melhor equipamento disponível a nível mundial e o
maior segredo tecnológico militar-civil do Brasil. Sem obviamente
detalhar seu funcionamento foi explicado que duas características
básicas as tornam tão superiores ao modelos de outras nações:
1) seu motor eletromagnético de base que sustenta, alinha e ao mesmo
tempo rotaciona o cilindro interno da centrífuga que é o verdadeiro
ovo de colombo do sistema.
2) o próprio cilindro interno da centrífuga nacional que ao contrário
do modelo original estrangeiro sobre que a Marinha se baseou no seu
projeto que era de alumínio e pesava 7 Kg, nosso modelo nacional é
feito de fibra de carbono e pesa apenas 700g!!!
Código secreto:
Talvez o grande segredo seja o que não foi falado, como se faz para
rotacionar magneticamente um cilindro de fibra de carbono que
supostamente é amagnético
,
Destas características decorre que seu funcionamento, sem qualquer
atrito mecânico significativo, torna virtualmente desnecesária a sua
substituição operacional em tempo previsível. Isto significa que foi
dito que a primeira centrífuga 100% operacional está em serviço
CONTÍNUO a 20 anos em Aramar sem queda observável do seu desempenho
original . O cilindro de fibra de carbono por ser 10 vezes mais leve
que o similar metálico (e no mínimo tão resistente estruturalmente)
demanda muito menos energia para seu acionamento e no caso improvável
de falha durante o regime de plena rotação, a menor massa do cilindro
interno em relação ao cilindro externo resulta que um acidente neste
tipo de construção não tem o mesmo efeito catrastófico de uma falha de
uma centrífuga mecânica onde a parte que é cineticamente girada pesa
10 vezes mais. Foi declarado que em geral as ultracentrífugas
mecânicas usados por outros países rotacionam na faixa de 30/35 mil
RPM (rotações por minuto) e a última geração das centrífugas
brasileiras estariam atinguindo cerca de 66 mil RPM.
.
Citação:
As ultracentrifugas brasileiras por sua durabilidade/estabilidade
virtualmente plena fariam assim ser praticamente desnecessárias as
constantes paradas para substituição de mancais/centrífugas dos
modelos mecânicos e PRINCIPALMENTE o tenso controle contínuo de
desempenho de cada elemento individual exigido na operação das
cascatas mecânicas (para evitar-se acidentes que levem a um colapso
catastrófico em série) seja incomparavelmente menos crítico nas
cascatas de ultracentrífugas por levitação magnética de projeto
brasileiro.
Em cascatas de 3 a 4 mil ultracentrífugas como, por exemplo, as atuais
da usina iraniana de NATANZ que já chegou a possuir no passado até
8.700 centrífugas, o lixo atômico gerado pelas ultragentrífugas que
tem de ser substituídas e o custo econômico de substituí-las para
manter o nível operacional da intalação torna o custo de operação
industrial extremamente elevado e o fluxo de produção industrial
intermitente.
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=69092
.
Quanto ao trabalhos de engenharia o Almirante Fragelli relatou que a
Marinha apartir de agosto de 2010 mandará 4 turmas de 20 engenheiros
(uma a cada 6 meses) e cada turma ficará em na França por 18 meses
fazendo cursos sobre construção de submarinos e sistemas de submarinos
nucleares (exceto propulsão). Um gráfico apresentado de emprego de
engenheiros navais no projeto prevê um pico de mais de mais de 400
engenheiros navais empregados no programa PROSUB em 2016. Mas relatou
que o gráfico refere-se unicamente a primeira unidade a ser produzida
a ser entregue em 2020/21, assim que seja decidido a construção das
demais unidades este numero poderá ser estabilizado próximo a este
nível por um grande período.
.
Outra informação MUITO INTERESSANTE foi que atualmente a EMGEPRON só
pode contratar engenheiros navais para remuneração de 1.900 reais por
mês
O que obviamente colide com o objetivo de contratar excelentes
profissionais para se construir um submarino nuclear
Por isso ainda este semestre a MB e o GF madarão uma lei para o
congresso para criação de uma empresa estatal que se chamará AMAZUL
(AMAZônia AZUL) que ficará responsável pela contratação dos
engenheiros navais com salários a preço de mercado para trabalhar para
o PROSUB, sobre este ponto o Almirante Fragelli dirigiu-se (após a
palestra) aos jovens que compõe este ano a primeira turma do curso de
Engenharia Naval que a FURG passa a oferecer (universidade federal
local) que foram assistir a palestra para que estudem com afinco pois
a necessidade da MB é tão grande que a USP e UFRJ (os dois
tradicionais cursos brasileiros) não terão capacidade de, sozinhas,
fornecer a quantidade de engenheiros navais que serão necessárias a MB
(e não só ao programa PROSUB) e que ele está trabalhando para que
estas vagas sejam disponibilizadas para uma atividade de ponta e bem
remunerada.
Não foi dada nenhuma informação sobre os armamentos do submarino e foi
citado que a marinha, a princípio, desistiu da construção de estações
de VLF para envio de mensagens aos submarinos nucleares pelo custo
elevado, por ser unidirecional (o navio não pode responder em VLF),
estar em via de desuso pelos EUA e França e porque possivelmente
depois de 2020 (quando a primeira unidade ficar pronta) o país deverá
já dispor de um sistema orgânico de comunicação satélite militar.
Além da própria construção do submarino foi declarado que ainda está
em estudo preliminar de que forma será modelada a carreira dos
militares que servirão nestas unidades, requisitos, cursos e por que
tempo. Que terá que ser diferenciada e ter estímulos específicos. Mas
encontra severas restrições nas leis que regem a remuneração militar
geral que teram de ser vencidas ou contornadas
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